quarta-feira, 30 de março de 2011

ADESÃO PARA COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS" PRORROGADA

A ADESÃO PARA PARTICIPAÇÃO DA COLETÂNEA DE CONTOS E CRÔNICAS "TANTAS PALAVRAS" FOI PRORROGADA ATÉ AGOSTO DE 2011. FAÇA SEU TEXTO E ENCAMINHE PARA O E-MAIL: aluceni@hotmail.com 

SE VOCÊ QUER PARTICIPAR, AINDA HÁ TEMPO. AJUDE DIVULGANDO PARA SEUS CONTATOS.
O que é?
Uma coletânea de contos e crônicas, com temática livre.
Quem pode participar?
Qualquer escritor, quer tenha ou não outros livros publicados. Aliás, a coletânea cumpre dois objetivos: (1º) divulgar textos literários de qualidade na forma impressa e (2º) oportunizar àqueles escritores que não têm condições de publicar uma obra solo, mas que querem ver seus textos impressos em forma de livro.
Qual o formato dos textos?
Os textos devem ser crônicas ou contos (em prosa, portanto), entre 2000 e 2500 caracteres, já contando com espaços (é preciso que se respeite esse número), em fonte Times New Roman, 12. Breve rodapé com currículo do escritor (máximo três linhas, sem foto).
Qual o valor do investimento?
Cada escritor poderá publicar um texto, no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com direito a dois livros, (formato 18x25cm, capa colorida, miolo 1 cor).
Como devo proceder?
Os escritores interessados deverão encaminhar o texto para aluceni@hotmail.com, de acordo com os critérios propostos acima, até agosto de 2011 (prazo máximo para realizar o pagamento da participação). Caso resida fora de Araçatuba e queira participar, solicitar número de conta bancária para efetuar o depósito.


PARTICIPE E AJUDE DIVULGANDO!
Antonio Luceni
Diretor de Integração Regional - São Paulo/Noroeste - UBE

terça-feira, 29 de março de 2011

EU TENHO UM SONHO E NINGUÉM O TIRA DE MIM

Antonio Luceni

Minha mãe não lia para mim antes de eu dormir. Minhas professoras da escola primária não levavam livros para sala, nem tão pouco indicavam leituras para serem realizadas em casa. Bibliotecas? Se quer sei o endereço de alguma delas. Será que elas existem mesmo? (Talvez ainda sob aquele formato e administração de O nome da Rosa). Livraria, de verdade, que só vende livros, ou ao menos é cheia deles por todos os lados, somente tive acesso depois dos vinte anos.

E sou um livromaníaco!

E por que gosto dos livros? Por que gosto de ler? Acho que é um pouco daquela coisa que dizem sobre vocação. Cada um de nós tem certa inclinação para alguma coisa, mesmo que esta coisa não seja ensinada, estimulada ou presente em nossas vidas.

Sabe aquele cara que cozinha muito bem, coordena temperos e cores, compõe sabores, não se contenta com o arroz e feijão? Sabe aquele menino ou menina que dança extremamente bem, que tem um swing danado, encantando a todos com gestos e movimentos? Sabe aquela senhorinha que, depois de aposentada, depois que os filhos saíram de casa e que o marido já não “manda mais” nela descobre-se atriz, pintora, escritora...?

Pois é, essas coisas da vida que a gente não sabe muito bem como explicar e dizer, mas vivenciar apenas. Deixar o fluxo da naturalidade acontecer, como um rebento vindo ao mundo: natural, normal, assim como tinha que ser.

Monteiro Lobato costumava dizer que livro é como sobremesa: tem que ser posto debaixo do nariz do freguês. Essa ideia de sobremesa nos remete a muitas coisas, não é mesmo? Sobremesa é gostosura, sobremesa é doce, sobremesa é agradável ao paladar, faz bem à vista (quantas sobremesas são comidas primeiro pelos olhos!).

Meu primeiro livro, dado pelo meu pai, foi tirado do lixo de um grande shopping em São Paulo. Um livro besta, que ensinava fazer azeite de forma artesanal. Umas ilustrações igualmente desinteressantes, mas não conseguia me desgrudar dele. Foi amor a primeira vista. Lembro-me dormindo com ele ao lado do travesseiro, levando-o dentro de minha mochila para exibi-lo aos meus colegas de classe e todos, como eu, inebriados pelo encantamento daquele objeto mágico (ou seria “saboreados” com a sobremesa?).

Essas coisas, essas aí ditas acima, de as crianças se envolverem com livros, com a leitura, com a escrita e com as artes de modo geral não poderiam se constituir como uma exceção. Esse encontro com o livro, com a fantasia, com o maravilhoso deveria ser estimulado, propiciado de forma deliberada, descaradamente pelos adultos.

Ninguém poderia ficar sem poder ler um livro, viajar em suas páginas, vivenciar outros mundos, conhecer outras culturas e pessoas, imaginar-se vivendo nesta ou naquela situação, apropriar-se de vocabulários, experenciar sentimentos outros que só são possíveis por meio da fantasia, da obra de arte... por falta de oportunidades, por falta de bibliotecas, por ausência de livrarias, porque ganha pouco e precisa ter a sorte de achar um livro no lixo a partir do qual irá se encantar.

Quem dera possamos viver, ainda, um Brasil em que as pessoas possam morar dentro de livros, como sugerido pelo mestre-literato, aplainando sonhos, criando outros tantos, comungando (de comer mesmo) com o irmão de diferentes paladares, de saberes e sabores provenientes da depuração de poetas, romancistas, contistas, cronistas...

Certamente será um Brasil melhor. Não temos dúvida de que serão pessoas melhores, mais comprometidas, mais sensíveis umas com as outras, mais camaradas, mais companheiras, mais... mais... e mais...

Eu tenho esse sonho e ninguém o tira de mim: ver livros à mão cheia por todos os cantos do Brasil.

Antonio Luceni é mestre em Letras e escritor, Diretor de Integração Regional – São Paulo/Noroeste da União Brasileira de Escritores – UBE.

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Morte e vida bolsa família



Hélio Consolaro



Fevereiro de 2011, em Araçatuba, na quadra da Escola Leonísia de Castro, assisti mais uma vez ao auto de natal de João Cabral de Mello Neto, Morte e Vida Severina. Trabalho do grupo Galeria4, alunos do Curso de Artes Cênicas da Unicamp.

Como eu já havia visto outras interpretações, dei aulas para vestibulandos sobre o livro, conhecia todas as palavras do texto.

Então, enquanto assistia à apresentação do grupo da Unicamp, fiquei me perguntando se todos entendiam o que viam e ouviam já que o grau de complexidade era maior devido ao alto nível artístico da apresentação.

Na verdade, não se entende uma obra de arte na primeira fruição e nem posso dizer que o meu nível de entendimento sobre a obra se esgotou. A cada leitura se aprende mais um pouco.

Assim, assistindo ao auto, fui me lembrando do jeito que eu fazia os alunos do ensino médio lerem “Morte e Vida Severina”. A TV Globo gravou o auto, obedecendo a todas as letras do texto cabralino. Assim, eu projetava a interpretação de Zelito Viana. Cada aluno devia ter o texto em mãos, acompanhando a projeção. Quando necessário, eu acionava a tecla “pause” e fazia minhas explicações.

É um auto porque tem caráter religioso e era apresentado de uma vez só, num ato só, gênero de origem medieval. Texto escrito em versos redondilhos maiores (7 sílabas poéticas, pertencente também à tradição medieval) de rimas sem um esquema regular, com repetições de palavras e de versos inteiros.

A obra possui 18 trechos divididos em duas partes: de 1 a 9 – a viagem de Severino até Recife; de 10 a 18, as experiências de Severino na capital. Nela, o autor apresenta o itinerário do retirante nordestino, que parte do sertão paraibano em direção ao litoral, em busca de sobrevivência.

Daí o nome: “Morte e Vida Severina” (e não “vida e morte”). O retirante foge da morte, encontra-a novamente na Zona da Mata, pois ausência de seca não é sinal de vida, mas a vida lhe sorri nas palavras do mestre carpina (José, pai do Menino Jesus). João Cabral antecipou-se à Teologia da Libertação, dando ao presépio uma interpretação política.

Segundo Cabral, Morte e Vida Severina “foi a coisa mais relaxada que escrevi.” E é por ela que ele é mais conhecido na literatura brasileira.

O texto foi uma encomenda de Maria Clara Machado, filha de Aníbal Machado. Ela leu, agradeceu, mas disse que não servia. Foi encenado pela primeira vez em 1954. E assim, o texto se tornou um espetáculo dos militantes da reforma agrária, antes de existir o MST. Disse Cabral: “Muita gente queria que, depois de cada espetáculo, eu subisse ao palco e gritasse: ‘Viva a reforma agrária!’ Recusei-me a fazer isso. Não faço teorias para consertar o Brasil, mas não me abstenho de retratar em poesia o que vejo e sinto”.

Vida severina, sinônimo de sofrida, comprada a retalhos. Vida cesta básica, vida bolsa família, sem direito em desistir dela.

Hélio Consolaro é professor, escritor e jornalista. Filiado à União Brasileira de Escritores – UBE.

Essência Volátil


Jordemo Zaneli Júnior
 
Durante o trajeto para o trabalho, Paulo César ouvia atentamente as notícias no rádio, tentando saber mais sobre o caso veiculado ontem, onde, furioso, um homem havia sequestrado a mãe de seus filhos na vã tentativa de fazê-la voltar para casa depois de abandonar anos de uma vida em comum.

Hoje, no lugar daquela notícia que despertara seu interesse, um estranho caso de um túnel que estava sendo cavado nas imediações de uma empresa de transportes de valores. Como faria para saciar seu desejo de informação?

Chegando ao trabalho foi comunicado que assistiriam a uma palestra sobre o perigo no manuseio de líquidos voláteis. O palestrante tomou como exemplo a principal propriedade da gasolina e sua facilidade de transformar-se rapidamente de líquido em vapor. A gasolina não é uma substância que se possa caracterizar por limites definidos na física ou na química – como se usam para descrever a água ou açúcar – porque ela é uma mistura volátil de hidrocarbono.

Assim que terminou a palestra, Paulo César ouviu seus colegas de trabalho comentar o quanto um determinado jornal persegue seu clube de futebol. Os erros de arbitragens contra a agremiação não existem, a favor são creditados com fraudes e favorecimentos. Uma única derrota já é motivo para crises internas e demissões do técnico e de jogadores irresponsáveis e anti-profissionais são procurados noitadas à fora pelo referido órgão de imprensa no intuito de forjar factóides. Paulo César lembrou que quando o time consegue uma vitória, tudo muda, até mesmo o dia fica claro, o céu de um azul anil varonil, o bosque do bairro brilha à luz do sol, os passarinhos fazem festa. O trânsito lento e caótico, a intolerância humana ficam muito mais fáceis de suportar.

Na volta para casa depois de um estafante dia de trabalho, tentava novamente ouvir a notícia que lhe interessava. Será que houve um final feliz? Ou mais cenas de sangue, suor e lágrimas? Ao contrário, o noticiário relatava as declarações do presidente do Banco Central, afirmando em entrevista que “as previsões do FMI que apontam uma retração na economia brasileira são voláteis e que o Brasil deve crescer acima da média mundial neste ano”. Paulo César pensou indignado: Que falta de compromisso com a informação. E os meus interesses pela notícia, como ficam?

Chegando a casa seu cachorro o estranhou. Oh amigão! Não me conhece mais? Disse ao animal. Será que errei de casa? Começou a sentir algo diferente no ambiente, uma aura carregada de maus pressentimentos. Sua mulher não estava neste mundo. Estava! (estava com outro na televisão, um cara sarado, barriga de tanquinho, cabelo loiros), os olhos da companheira brilhavam, sua respiração era ofegante. A mesa repleta de recipientes vazios, cheios de um nada insólito, humilhante, ultrajante. Paulo César olhou-se no espelho sua aparência cansada, os olhos fundos sem brilho, fixos em um nada, a barriguinha de chope, os cabelos e a barba não muito contribuíam com ele. Sem chances.

Os filhos estavam (não estavam), outros interesses, outro mundo, a figura carcomida de um nada vazio, que não inspirava pelo menos um por quê. A sombra de um passado de incertezas e uma louca corrida pelo novo corroíam as certezas, inchando cidades com cortiços e favelas, baixos salários, jornadas longas de trabalho, mudando radicalmente hábitos e valores, tudo a assombrar Paulo César, como um castigo por algum crime sentenciado por Dostoievski. A velocidade e sua força invisível varreram valores morais e religiosos, revelando um novo ser humano com outras crenças. No quarto uma fumaça empertigada.

A televisão, a grande companheira. Lá vou encontrar o que eu mais quero. Ao contrário, o noticiário relatava a história de um cara que roubava os donativos das vítimas da enchente que, agora, eram algozes a infernizar as autoridades. A tragédia era anunciada. E a notícia que interessava a Paulo César, não. Onde estou? Tudo é uma fraude, tudo parece ser e não ao mesmo tempo, não existe memória. Preciso ser mais volátil. Cansado, indignado resolveu beber para esquecer, chamou seu sobrinho residente agregado e pediu para comprar-lhe uma bebida no empório da rua, depois de muito insistir bradou: Você ainda não foi menino? O garoto respondeu: Eu já... vô lá tio.


Jordemo Zaneli Júnior é advogado e escritor, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.


quarta-feira, 16 de março de 2011

COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS..."

COLETÂNEA "TANTAS PALAVRAS..."



O que é?
Uma coletânea de textos de autores diversos, a partir dos gêneros contos e crônicas, com temática livre.

Quem pode participar?
Qualquer escritor, quer tenha ou não outros livros publicados. Aliás, a coletânea cumpre dois objetivos: (1º) divulgar textos literários de qualidade na forma impressa e (2º) oportunizar àqueles escritores que não têm condições de publicar uma obra solo, mas que querem ver seus textos impressos em forma de livro.

Qual o formato dos textos?
Os textos devem ser crônicas ou contos (em prosa, portanto), entre 2000 e 2500 caracteres, já contando com espaços (é preciso que se respeite esse número), em fonte Times New Roman, 12. Breve rodapé com currículo do escritor (máximo três linhas, sem foto).

Qual o valor do investimento?
Cada escritor poderá publicar um texto, no valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), com direito a dois livros, (formato 18x25cm, capa colorida, miolo 1 cor).

Como devo proceder?
Os escritores interessados deverão encaminhar o texto para aluceni@hotmail.com, de acordo com os critérios propostos acima, até 30 de março de 2011 (prazo máximo para realizar o pagamento da participação). Caso resida fora de Araçatuba e queira participar, solicitar número de conta bancária para efetuar o depósito.

PARTICIPE E AJUDE DIVULGANDO!


Antonio Luceni
Diretor de Integração Regional - São Paulo/Noroeste - UBE

http://www.blogdaube.blogspot.com/

quarta-feira, 9 de março de 2011

ENTREVISTA PRA O PROGRAMA "CIDADE ABERTA"

TANTAS PALAVRAS... PARTICIPANTES

1. ANTONIO LUCENI DOS SANTOS - "Um leve amargo no final" - Araçatuba/SP
2. FRANCISCA DE CARVALHO MESSA - "Tempo, vento e amor" - Pederneiras/SP
3. FRANCISCO GREGÓRIO FILHO - "Heliete" - Rio Branco/AC
4. JOSÉ HAMILTON - "Véspera de natal" - Araçatuba/SP
5. MARIA LÚCIA TERRA - "Preconceito? Eu?" - Araçatuba/SP
6. REGINA BAPTISTA - "A cabine de comando" - São Joaquim da Barra/SP
7. MARIANICE NUCERA - "Olho por olho" - Araçatuba/SP
8. RAFAEL MOIA FILHO - Bauru/SP
9. SALETE MARINI - "Vida novela" - São Paulo/SP
10. JORDEMO ZANELI JÚNIOR - "A sogra Dona Esperança" - Buritama/SP
11. CARLOS ROBERTO FERRIANI - "Dó-mingo" - Ribeirão Preto/SP
12. ANTENOR ROSALINO - "O ser no mundo" - Araçatuba/SP
13. YARA REGINA FRANCO - "O mascate" - Araraquara/SP
14. WANILDA BORGHI - "Preito" - Araçatuba/SP
15. WANDYR ZAFALON - "Mergulhando nos mistérios" - Araçatuba/SP
16. ELDIR PAULO SCARPIM - "Natureza das emoções" - Birigui/SP
17. JOSÉ MARCOS TAVEIRA - "Blogueiro também é escritor" - Araçatuba/SP
18. JETTER MICHELLINE - "Tempo ao tempo" - Penápolis/SP
19. RODRIGO SANTIAGO - "Epitáfio" - Penápolis/SP
20. RITA LAVOYER - "A 5ª Estação" - Araçatuba/SP

STOP

Tito Damazo



“A Vida parou
Ou foi o automóvel?”

Carlos Drummond de Andrade


 
A bicicleta zunia ladeira abaixo. A cabeça, não. Esta, vento sem rumo, sambava por todos os cantos da vida.

Ainda se fosse época de eleição, nenhuma confiança mereciam, como insistia a maioria dos seus amigos. Não conseguia sentir no olhar, na face deles segundas intenções. Não falavam de políticos, não falavam de governos. Falavam da dura realidade de se viver na pobreza e na ignorância. Que era o que se passava com o povo do seu lugar.

Mais a mais, estava com eles Wanderley, em quem todo o mundo aprendera confiar. Médico honesto, atencioso, cumpridor do seu dever. Muitas vezes ia além do seu horário no postinho. Amigo, simples, jogava no time do bairro, com o qual ia, na carroceria do caminhão ou camionete, aos domingos. Ficava bom tempo no boteco, tomando umas cervejas com eles depois do jogo. Enquanto bebiam, entre uma brincadeira e outra, ele falava um bom tempo das muitas injustiças existentes contra os homens, as famílias dos trabalhadores.

Aqueles caras, quando iam com ele nas brincadeiras-dançantes, nas noites de sábado, promovidas pela associação dos amigos do bairro, nas quermesses da padroeira da paróquia, nalgum jogo de domingo, era gente boa como ele. Afinal, ele não ia levar com ele pro bairro nenhum vida torta, bagunceiro.

Aprendia. Levava a sério aquelas conversas. Já até ficava vez ou outra pensando naquilo tudo. As diferenças sociais muito grandes. O direito dos filhos de ir na escola como o filho dos outros. De não ter que ir trabalhar e não conseguindo assistir aula direito. De a saúde para eles todos, gente pobre, humilde, ser também boa, de confiança. A vida dos filhos tinha que ser melhor. Bendito o dia que conheceu o Wanderley e os amigos dele. O mundo passou a ficar mais claro. Se instruía. E sentia que eles também aprendiam muitas coisas com ele.

Dificuldade maior era o desemprego no momento. Mas não se atemorizava. A fome não bateria em sua porta. Tinha braço, força, saberia, com a graça de Deus, sempre desencavar alguns trocos. O pior ia passar. Desesperar era pior. Acreditava nele.

Opa! A bicicleta pinoteou. A roda passou por cima de um treco. Diminuiu a velocidade, mas a bicicleta ziguezagueava. O farol do carro apodando o outro! Porra! Vem em cima de mim o filho da puta! A calçada!...

O corpo explodiu contra o poste.

Ali, a família. Amigos sisudos contemplam-no que jazia no silêncio e indiferença definitivos. E a vida deles continuaria na mesma. A sua, que andava pensando nas mudanças, não mais.

O torpor da mulher era carregado de dor e desamparo. Não havia seguro. Não havia nenhum recurso. Justo agora, quando estava desempregado.

Naquele dia, os filhos não foram à escola. E ele não admitia que faltassem.

 
Tito Damazo é doutor em Letras e poeta, membro da União Brasileira de Escritores – UBE e da Academia Araçatubense de Letras – AAL.

quarta-feira, 2 de março de 2011

CELULAR CONFISCADO

Ana de Almeida dos Santos Zaher


Como é triste saber, ver e conferir que nem tudo termina com um final feliz. Ainda estou chocada ao ver pessoas tão bem instruídas, supostamente inteligentes, propagando uma liberdade que não têm.

No trabalho parecem poderosos chefões e na vida pessoal são uns covardes; tão covardes que, para manterem as aparências, sujeitam-se a serem puxados pela coleira. Sim, são verdadeiros cachorrinhos dirigidos ou por alguém ou pela própria covardia, em voarem livres.

Dizem-se livres, donos da própria vontade, quando na verdade, são marionetes nas mãos de outra pessoa.

Sabe, vendo esses exemplos, fico analisando a vida humana, suas virtudes, mas o que mais fica evidente é a pobreza de espírito, a miserável postura que elas adotam para as suas vidas.

E a liberdade, onde fica?

Elas sabem que a liberdade existe, gostariam de conhecê-la, de vivê-la, sabem onde ela está, mas não se dispõem a buscá-la. Coisa de quem se sujeita ao livre arbítrio, só que ao de outra pessoa. São dirigidas.

Em uma época moderna, ainda não vêem os separados com bons olhos. A orientação sexual ainda é objeto de crítica por parte de uma sociedade que não respeita o seu semelhante.

Sou a favor da família bem estruturada, assentada sobre o alicerce da moral e da ética, mas também penso na felicidade que, para muitos, não existe. Ocorre que ela existe e seria muito fácil consegui-la, tivessem coragem de buscá-la.

Vejo muitos fazendo terapia porque o amor acabou. Ocorre que ele não acaba, apenas migra e os covardes não têm coragem de acompanhá-lo. É o medo que possuem da sociedade. Vivem em uma jaula, como leões famintos.

Uma situação dessa só acaba em depressão e não há remédio para ela, a menos que a pessoa se disponha a curar-se e, no caso, indo atrás da liberdade que a fará feliz.

Recentemente um senhor relatou-me a sua história. Disse-me que fez bodas de ouro, deu uma festa para os amigos e, depois que todos foram embora, ele chorou. Sua alma gritou: bodas de bosta! Vinte anos de felicidade e o restante de sofrimento. Meus sonhos e desejos no baú foram guardados; no porão, foram trancados. Hoje, com mais de 60 anos, até meu celular foi confiscado.

Também confessou que há muito tempo adormece chorando, porque não teve coragem suficiente para mudar sua rota.

Agradeceu-me por ouvi-lo e seguiu sorrindo, dizendo que Deus foi generoso com ele, que fui o melhor presente. A menina dos seus olhos...

É, e eu fiquei ali, pensando no quanto perdemos tempo. Tempo que passa depressa demais.



Ana de Almeida dos Santos Zaher é escritora e poeta, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.