quarta-feira, 2 de março de 2011

CELULAR CONFISCADO

Ana de Almeida dos Santos Zaher


Como é triste saber, ver e conferir que nem tudo termina com um final feliz. Ainda estou chocada ao ver pessoas tão bem instruídas, supostamente inteligentes, propagando uma liberdade que não têm.

No trabalho parecem poderosos chefões e na vida pessoal são uns covardes; tão covardes que, para manterem as aparências, sujeitam-se a serem puxados pela coleira. Sim, são verdadeiros cachorrinhos dirigidos ou por alguém ou pela própria covardia, em voarem livres.

Dizem-se livres, donos da própria vontade, quando na verdade, são marionetes nas mãos de outra pessoa.

Sabe, vendo esses exemplos, fico analisando a vida humana, suas virtudes, mas o que mais fica evidente é a pobreza de espírito, a miserável postura que elas adotam para as suas vidas.

E a liberdade, onde fica?

Elas sabem que a liberdade existe, gostariam de conhecê-la, de vivê-la, sabem onde ela está, mas não se dispõem a buscá-la. Coisa de quem se sujeita ao livre arbítrio, só que ao de outra pessoa. São dirigidas.

Em uma época moderna, ainda não vêem os separados com bons olhos. A orientação sexual ainda é objeto de crítica por parte de uma sociedade que não respeita o seu semelhante.

Sou a favor da família bem estruturada, assentada sobre o alicerce da moral e da ética, mas também penso na felicidade que, para muitos, não existe. Ocorre que ela existe e seria muito fácil consegui-la, tivessem coragem de buscá-la.

Vejo muitos fazendo terapia porque o amor acabou. Ocorre que ele não acaba, apenas migra e os covardes não têm coragem de acompanhá-lo. É o medo que possuem da sociedade. Vivem em uma jaula, como leões famintos.

Uma situação dessa só acaba em depressão e não há remédio para ela, a menos que a pessoa se disponha a curar-se e, no caso, indo atrás da liberdade que a fará feliz.

Recentemente um senhor relatou-me a sua história. Disse-me que fez bodas de ouro, deu uma festa para os amigos e, depois que todos foram embora, ele chorou. Sua alma gritou: bodas de bosta! Vinte anos de felicidade e o restante de sofrimento. Meus sonhos e desejos no baú foram guardados; no porão, foram trancados. Hoje, com mais de 60 anos, até meu celular foi confiscado.

Também confessou que há muito tempo adormece chorando, porque não teve coragem suficiente para mudar sua rota.

Agradeceu-me por ouvi-lo e seguiu sorrindo, dizendo que Deus foi generoso com ele, que fui o melhor presente. A menina dos seus olhos...

É, e eu fiquei ali, pensando no quanto perdemos tempo. Tempo que passa depressa demais.



Ana de Almeida dos Santos Zaher é escritora e poeta, membro da União Brasileira de Escritores – UBE.

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